Capitulo 1 de Licença para Chorar

Como disse – ou melhor, escreveu – Clarice Lispector, “Pensar é um ato, sentir é um fato”. Se ela não tivesse dito ou escrito, eu o faria.

Sim, seria mais complicado se a autora dessa frase tão competente pra descrever a minha vida fosse eu. Pois pensar, além de ser um ato é como andar por um corredor estreito, escuro e gelado fazendo de tudo pra achar a saída, mas não achar. E aí começar a correr desesperadamente até que fica exausta. Depois de não ter forças mais pra procurar a saída, você a encontra, mas também não tem forças pra comemorar. E é aí que você evita pensar, mas não pode, não consegue. Porque de repente, você se depara com uma porta de onde esbanja luz e entra... Que lugar odiável, PENSAR.

Enquanto que sentir é inevitável. É quando você tenta não ver as coisas perfeitas e bonitas, porque sabe que beleza é ilusão. Não importa por onde ou de onde veio, importa onde está. Não importa se a porta era bonita, não importa se você tentou não se magoar, tentou não pensar. Mas você tentou. Não conseguiu, mas tentou. Sei que ninguém se importa realmente com coisas que importam. Se não, porque lembramos com mais facilidade de coisas ruins que aconteceram do que de boas? Talvez o cérebro do ser humano seja tão inteligente que todos vivem tentando. Tentando não se magoar, não lembrar, não cair, sempre levantar, não chorar e crescer. Mas a obsessão pra que as coisas dêem certo é tão inútil, porque somos felizes! E sempre da certo. Se agente tenta não sofrer, talvez agente sofra, mas no fim das contas sabemos que tentamos. Nunca desistimos, mas se algo não sai como queríamos, nos conformamos, descobrimos o que fizemos de errado para não repetir e aprendemos. Ou seja: agente cai, sente, chora, pensa, sempre levante e cresce!